2 de setembro de 2013

dos estranhões das minhas moradas

- assim um estranhão, como nós, estás a ver? daqueles que não pertence à terra em que vive. ele é da terra dele como eu sou daqui de espinho, percebes? só que eu também tenho pessoas estranhonas por cá, mas os estranhões de cá nunca cá estão. já partiram para outras terras, disse ela. 
quem não pertence parte rumo a um lugar de pertença. a uma terra de aceitação em que os cheiros e os cafés tragam desafio. 
duas canecas de cerveja, duas de chá, duas de café. nunca me conseguirei decidir entre chá e café, ambos tão apropriados consoante a situação, não te parece, eva?
um copo de vinho, duas canecas de cerveja, duas de chá, duas de café. só o vinho tem direito a ser servido em algo que não caneca. pelo menos se não fervido. 
um copo de cinho, duas canecas dele fervido, e as de cerveja, chá e café. 
tenho cá para mim que nunca pertencemos a terra nenhuma, as terras é que nos vão pertencendo a nós. uma aqui, ora outra ali. uma em parte nenhuma, outra algures no mundo, no país vizinho, neste, no nosso, no do outro, ou no daquele que apanha o mesmo metro infestado com os cheiros de todas as raças. 
a primeira vez que andei de metro fiquei abismada com a quantidade de africanos,  da terceira não fiquei abismada com nada, da quarta foram os indianos, no metro do porto a única sensação semanticamente próxima de abismada é o abismo que se faz sentir pela diferença. o metro do porto não é de todo como os outros metros do mundo. é quase como um brinquedo de criança, um carrinho de brincar que imita o modelo dos carros reais. o porto é a criança, as outras metrópoles os pais. 
gosto do porto como casa, mas não é lar. 
nem aqui onde vivo o é. as pessoas de cada lugar fazem-nos sentir mais ou menos estranhas, mais ou menos pertencentes. eu pertenço, tu pertences, ele pertence, nós pertencemos, vós pertenceis, eles não pertencem. dizem. os naturais. os patriotas de cada terra onde passas, pisas, conheces, onde te perdes. 
nem a Olympia Carina me percebe nestas noites.
mas que saudades de lhe martelar palavras nas teclas. 

nós vivemos alimentado-nos das palavras dos outros. se os outros falarem, deixamos de respirar.
não há nada comparável ao processo calmante de preparar uma chávena de chá. 

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