1 de fevereiro de 2011

viste-me?

a porta da rua estava aberta. eu já não estava no quarto, tinha deixado a cama desfeita, as roupas espalhadas sobre ela como se me tivesse demorado a escolher o que vestir. a torneira da casa-de-banho  vertia gotas de água, uma atrás da outra, a minha escova de dentes estava pousada sobre o lavatório ainda com a pasta.
na cozinha, a caneca de café estava bebida até meio, a torradeira ainda quente das primeiras torradas da manhã e o meu cheiro estava por todo o lado. um cheiro a sono, a mau acordar, a um bom-dia mal disposto, como sempre. o atraso do meu despertar impregnava as paredes da casa. até as chaves ainda estavam na porta.

estava em minha casa, estavam espalhadas por todos os cantos as minhas coisas, os meus livros, os cd's que todos me criticam por ainda comprar quando a internet é tão simpática,  os meus rabiscos escrevinhados em papeis deixados à toa em cima da mesa da sala, no movel da casa-de-banho pequenina, no sofá vermelho em frente à televisão. toda eu espalhada pelo apartamento e, no entanto, não lá estava nada. eu não estava.

descobri que na ânsia de saír me esqueci de ti e que, por isso, apesar do meu corpo estar, provavelmente, a trabalhar por agora, eu tinha ficado ali. presa. à tua espera. à espera que também tu acordasses para me poderes dizer bom dia.

5 comentários:

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  2. eu vejo-te aí, por casa. de ti inalas a violência de amar. pobre corpo. pobres corpos.

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  3. eu vi-te . vi-te querer deixar de amar e seres espezinhada pelo síndrome de coisa (obrigada bruno) .

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  4. Fazem-nos acreditar naquele único amor que nos rebate, retira o folgo, retira a respiração, aquele que nos leva ao limite quente e forte de uma ligação e acreditamos que é desta que o nosso corpo se junta e permanece colado a outro, mas quando acordamos, lá só permanece a ansiedade da longa espera de preencher o vazio que ficou. A partir desse momento ficamos somente aguardar que as semanas se transformem em dias, os dias em horas, as horas em minutos, onde por fim os minutos se tornem segundos, de forma a congelar tudo o sentimos pelo outro corpo.

    (Marl B).

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  5. muito visual e sente-se o movimento pelo espaço e pela atmosfera que foi muito bem criada. Além disso consigo sentir a personalidade da personagem, ainda que indefinida...tudo isto em tão poucas linhas...Bravo :)

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amanhã talvez não