31 de março de 2010

Quais são as tuas verdades, meu amor?

Estive a limpar o sotão da minha cabeça. Estava cheio de pó. Estava dessarumado demais. Limpei tudo. Limpei-te de mim.
É estranho ouvir-te chamares-me dessas coisas. Não estou acostumada a que me tratem assim, com tanta ternura, com tanto carinho quando a única coisa que querem de mim é uma oferenda cómoda de pernas abertas.
Fazes-me promessas, falas-me de dias que ainda não chegaram, de dias que eu nem sequer vejo chegar. Divagas sobre o meu toque, sobre o choque do encontro dos corpos, dos arquejos, dos suspiros.
Quem és tu? És homem sequer?
Soa-me a estranho. Soa-me a estranho todas essas palavras-goluseimas serem para mim. Nunca acontece, sabes? Eu sou mulher práctica, por isso nunca acontece. Nunca é preciso.

Às vezes apetece-me correr e agarrar-te num abraço findável, amachucar-te contra o peito, riscar-te a cara com caneta de feltro, pôr-te uns óculos 3D e rir-me alto da tua figura adorável. Apetece-me brincar como criança com as tuas duas argolas irritantes, sempre vaidosas penduradas na orelha esquerda. Apetece-me chatear-te, bater-te com força (com toda a minha, com tão pouca para ti) no braço, rir-me deliciada com a minha própria maldade por te querer um mal tão sincero, insultar-te e lambuzar-te com os restos de gelado que não comi porque deixei derreter na mão - para variar. Apetece-me fumar um cigarro com passas pausadas, cronometrar os segundos de espera entre uma e outra, matar a beata num cinzeiro de vidro verde semi-transparente, esmagalo com a unha pintada com Carmen, olhar para ti com malicia e começar a mascar uma bubblegum de Menta - (e logo a seguir tu sabes: quero beijar-te, morder-te os lábios, enterrar-me em ti, meu amor).

É estranho ouvir-te chamar-me de coisas fofas quando tudo o que eu acho que sou para os outros é bruta. Mas, sabes meu amor, começo a acreditar a medo que talvez possas ser o primeiro a ver-me de olhos fechados.

3 comentários:

amanhã talvez não